Vendo há pouco dias atrás a nova propaganda de natal da coca cola, por sinal muito bonita. Um cenário de chamar a atenção de todo mundo, crianças, adultos, enfim, de pessoas de todas as idades, independentemente de religião, ideologia ou nacionalidade. Estava ali naquele cenário, predominantemente branco de neve, um pai alto branco, olhos azuis, saindo de uma casa bem grande e bonita, talvez uma casa de uma certa classe média americana, ao lado da porta, escorada, estava sua esposa, também alta magra, branca, quanto aos olhos não pude precisar a cor, mas pude ver que era uma linda mulher loira; acompanhando o pai saiu uma criança, muito linda, a miniatura da mãe, veio despedir-se do pai que saia para o trabalho. Ele trabalhava numa plataforma petroleira em alto mar. Parecia um bom emprego. Para não esticar muito o assunto, vou tentar resumir sem perder o foco. Então esse pai em alto mar sentiu saudade de sua família e, aventurou-se, a voltar para casa para passar o natal com a família, veio por conta própria; não sei dizer se por isso perdeu ou não o emprego. Mas, o fato é que veio por um impulso do instinto, sem saber que seu destino já havia sido decidido por um pedido de sua filha ao papai Noel. Pediu que lhe desse de presente o seu pai; queria passar o natal com seu pai, tomando coca cola em família.
Também não dá para dizer que uma publicidade com boa carga de realidade interessaria ao nicho de mercado pelo qual busca essas empresas, ou seja, aquelas pessoas que possam pagar pelos seus produtos. Imaginar que uma imagem de uma criança negra ou parda, maltrapilha, tendo como cenário por detrás uma favela ou um conjunto de casas de pau a pique ou ainda umas palafitas sobre um rio poluído, pudesse ajudar a vender seus produtos finos e caros é não estar em consonância com a realidade dos nossos tempos, onde até a ideia de felicidade tem um preço, geralmente alto.
Esse personagem papai Noel, foi uma personagem que sofreu uma metamorfose ao longo do tempo, ou melhor, metamorfosearam em nome do mercado de consumo. O seu saco, embora grande, não é suficientemente grande para atender todas as crianças que toma conhecimento do seu ofício; e não é, como já imaginaram algumas crianças em soluços, por falta de chaminés em suas casas, mas porque ele é severamente seletivo, escolhe as crianças a quem quer presentear e, a outras ele castiga com a desilusão e a tristeza, criando um sentimento cruel de fracasso aos pais pobres. A dor que esse papai Noel já causou na humanidade não há saco que caiba. Mas, está por aqui todos os anos, alegre, assobiando, cantando, roupa nova de seda vermelha, visitando as casas de quem que lhe pode pagar. Seu serviço é tão caro quanto cruel.
Mas, de uma coisa não podemos esquecer nesta data: lembrar de um menino, filho de um carpinteiro pobre com uma menina, também pobre. Um menino que não tinha onde nascer, dividiu espaço com alguns animais numa estrebaria. Chegou sem riquezas deste mundo, mas trouxe consigo um saco enorme feito com tecido do coração do próprio Deus, o Pai, cheio de palavras de esperança, de fraternidade, igualdade, compaixão e muito amor ao próximo.
Porém, o mais intrigante é que toda publicidade e propaganda não trazem lembrança desse aniversariante, tão importante e tão significativo para todos nós. Talvez, porque o presente que traz em sua palavra seja de graça, não precisa pagar nada por ele e, portanto, não interessa a coca cola e ao mercado de consumo em geral.
Sinceramente, eu quero que você tome sua coca cola sem nenhuma culpa, que aliás, bem gelada é uma boa bebida. Mas, o que não pode deixar de estar presente em nossos corações é o aniversariante, senhor Jesus Cristo; mesmo que ele nunca tenha vestido uma roupa vermelha de seda cara, com um rico saco também vermelho e do mesmo tecido caro.
...mas, é preciso sabermos, para não vivermos enganados, é que a única coisa que chega para todos de forma igualitária é a propaganda, muito bem produzida e com uma ideia subliminar, condicionando o consumo dos seus produtos a ideia de felicidade e vida boa. Mas, nos resta perguntar: as condições de consumo são iguais para todos no mundo?
Francisco Guimarães
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