Indagado pelo Ministério Público Federal (MPF) sobre com quem mantinha contato dentro do PT durante a campanha, Santana respondeu que se relacionava com Lula, Palocci e a cúpula do partido. “Antonio Palocci também sempre era um interlocutor estratégico e cumpria um papel paralelo de organização financeira com Mônica, mas não diretamente comigo”, completou.
João Santana ressaltou que não tinha o costume de tratar do financiamento da campanha com o ex-presidente, mas que procurou o petista algumas vezes para cobrar dívidas. “O que eu me referi com ele, tempos depois, foi cobrando atrasos de pagamentos que estavam ocorrendo, quando Palocci falhava. Era um degrau, entrei duas ou três vezes e falei com o presidente. ‘Tem um atraso grande e nós estamos entrando em um quadro de desequilíbrio econômico e financeiro’. Ele sempre se mostrava surpreso: ‘não, vamos resolver’. Isso no intervalo do primeiro para o segundo turno da campanha dele”, declarou o publicitário.
O marqueteiro entende que, ao ser cobrado pelos atrasos, o ex-presidente sabia que se tratava de valores não contabilizados no caixa oficial de campanha. “Primeiro, não conheci nenhum candidato que não soubesse detalhes da administração financeira de sua campanha. Segundo, os pagamentos oficiais sempre tiveram margem pequena de atraso, sempre tinha atraso, mas não tanto. Então, quando se referia a atraso, inclusive os que ficavam para depois da campanha, estava implícito que era caixa dois”, disse a Moro.
Outra cobrança a Lula relatada pelo publicitário foi referente à campanha do ex-presidente de El Salvador, Maurício Funes, em 2009. De acordo com João Santana, o petista o orientou a procurar o empresário Emílio Odebrecht, que encaminharia os pagamentos. Odebrecht teria tratado com Antonio Palocci sobre a dívida, que foi paga.
Por meio de nota, a defesa de Lula afirma que “os depoimentos coletados hoje deixaram claro que a também essa terceira acusação apresentada pelo Ministério Público Federal contra o ex-Presidente Lula perante a Justiça de Curitiba é manifestamente improcedente. A denúncia faz referência a 9 contratos da Petrobras e a reformas realizadas em um sítio em Atibaia. Nenhuma das testemunhas hoje ouvidas confirmou a acusação”.
Processo investiga sítio em SP
João Santana, Mônica Moura e o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Jorge Zelada foram as primeiras testemunhas ouvidas no processo que trata do sítio de Atibaia, supostamente reformado pelas empreiteiras Odebrecht, OAS e Schahin em benefício de Lula. Os três foram arrolados como testemunhas de acusação pelo Ministério Público Federal.
Em maio de 2017, Lula foi denunciado pela força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso envolvendo obras na propriedade. De acordo com os procuradores, o ex-presidente foi beneficiado ilicitamente com cerca de 1 milhão de reais nas reformas, que incluíram a construção de anexos e benfeitorias no sítio, como a instalação de uma cozinha de alto padrão. Odebrecht e OAS teriam arcado com 870.000 reais das obras e a Schahin, por meio do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do petista, teria pago 150.500 reais.
Escute os depoimentos de João Santana e Mônica Moura: